Quer entender como não esquecer a matéria? Comece lendo com atenção a frase abaixo:

Camberra é a capital da Austrália.

Você leu a frase acima. Ainda assim, daqui a alguns dias você já terá esquecido que Camberra é a capital da Austrália. Isso é biológico. A informação não é relevante para você, não muda sua vida. Portanto, você não voltará a pensar no assunto, e ele naturalmente será apagado da sua memória.

Direito Administrativo, Direito Constitucional, Processo do Trabalho… essas matérias são como a frase “Camberra é a capital da Austrália”. Raramente elas tratam de um tema que toca nosso dia a dia. Licitações, competências privativas da União, agravos de petição… esses institutos jurídicos, via de regra, estão só nos livros e nas aulas, mas não adentram as vidas dos alunos de Direito. Por isso é tão difícil não esquecer o que aprendemos sobre eles.

Várias vezes eu fui à aula e aprendi com profundidade um conteúdo X. Só para, um mês depois, já não lembrar mais nada do que tinha estudado. Imagino que você também já tenha passado pela mesma experiência.

POR QUE ESQUECEMOS?

Isso acontece porque o aprendizado do conteúdo X foi isolado. Esse conteúdo não foi repetido na minha cabeça. Eu ouvi e entendi a aula uma única vez, mas não tive a preocupação de revisá-la nos dias subsequentes. Por isso esqueci.

Não adianta aprender, mas não revisar. O esquecimento será inevitável. A revisão existe para te lembrar do que você estudou. Ela sedimenta a informação na sua cabeça, consolida o conteúdo na sua memória.

COMO NÃO ESQUECER A MATÉRIA?

Para não me esquecer do que estudo, eu uso o método da revisão espaçada. Quando aprendemos uma matéria nova, essa informação vai para nossa memória de curto prazo. A revisão tem o objetivo de transferi-la para nossa memória de longo prazo, que é bem mais resistente e duradoura.

Então vamos supor que eu tenha aprendido hoje que o prazo para interposição do agravo de instrumento é de 15 dias. Essa informação está guardada na minha memória de curto prazo. Para sedimentá-la, preciso necessariamente rever essa matéria amanhã (1ª REVISÃO – dia seguinte ao aprendizado). Em seguida, como já revisei uma vez o conteúdo, posso esperar um espaço maior de tempo para revisá-lo novamente (2ª REVISÃO – 3 dias depois do aprendizado). Agora que já revisei o conteúdo por duas vezes, em dois dias diferentes, posso esperar um espaço ainda maior de tempo para revisitá-lo (3ª REVISÃO – uma semana depois do aprendizado). E assim sucessivamente, até o dia da prova:

DIA 1 – aprendizado de conteúdo novo

1ª REVISÃO – dia seguinte

2ª REVISÃO – 3 dias depois

3ª REVISÃO – 1 semana depois

4ª REVISÃO – 2 semanas depois

5ª REVISÃO – 1 mês depois

6ª REVISÃO – 2 meses depois

7ª REVISÃO – 4 meses depois

8ª REVISÃO – 6 meses depois

9ª REVISÃO – 8 meses depois

Revise!

Não tenha preguiça de revisar. Nunca. Não revisar é jogar fora todo o trabalho que você teve para aprender aquele conteúdo.

A revisão deve ser rápida e objetiva. Até porque, além de consolidar o que já aprendeu, você precisa conhecer novos conteúdos. Se você perdeu o artigo da semana passada, clique aqui e descubra quanto tempo leva para passar na OAB. Hoje eu expliquei QUANDO eu reviso o que aprendo. Na coluna da semana que vem, vou explicar COMO eu reviso aquilo que não posso esquecer. Nada de rever a vídeo-aula ou reler minhas anotações. Esses são métodos passivos de aprendizado que estão ultrapassados.

Mas saibam desde já que não adianta estudar uma única vez a matéria. É fundamental ter um cronograma de revisão espaçada, como o meu que apresentei acima. Quanto mais você revisa, mais tempo pode esperar para rever outra vez a matéria. Agora, se não a revisar, ela será inevitavelmente esquecida.

Para impedir o cérebro de esquecer as regras licitatórias ou os prazos processuais, é fundamental criar uma rotina de estudos em que você revisita o mesmo conteúdo várias vezes, em espaços cada vez maiores de tempo. Só assim ele estará cimentado na sua memória para o dia da prova, pronto para ser usado.

Qual é mesmo a capital da Austrália?

 

* A ideia de revisão/repetição espaçada (spaced repetition, em inglês) foi tirada do livro Make It Stick, escrito por Peter Brown, Henry Roediger e Mark McDaniel, publicado pela Harvard University Press em 2014.

 

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