Ao longo da minha atuação no magistério, deparei-me com muitos desafios enfrentados pelos alunos. Algo que acontece tanto na faculdade quanto nos cursos preparatórios para concursos. Mas de longe, o maior desses desafios é a falta de conhecimento acerca do funcionamento cerebral. Afinal, nunca estudamos sobre o funcionamento do nosso cérebro, seja na graduação, seja em uma pós.

    Eu mesma, por ter uma enorme curiosidade sobre o assunto, apenas consegui um conhecimento aprofundado por ter decidido especializar-me em neurociências. Mas o incrível é que educadores – pais e professores – são os que mais trabalham com o cérebro e, o mais curioso, é que muitos deles não conheçam o funcionamento cerebral. Daí a enorme importância de se estabelecer um diálogo entre a neurociência e a educação, de forma que, cada vez mais, não somente os educadores, mas também os estudantes, possam conhecer melhor o processo de ensino-aprendizagem.

    Logo, não se trata de achismo ou de opinião deste ou daquele educador, mas sim de fundamentos neurocientíficos desse processo. A ausência de conhecimento sobre o assunto é perigosa para estudantes e educadores. Para os estudantes, é perigosa por conduzir à perda da oportunidade de utilizar estratégias adequadas de aprendizagem. Também para educadores por fazer com que eles não saibam, muitas vezes, como conduzir melhor o processo.

    O cérebro é a parte mais importante do nosso sistema nervoso central. É por meio dele que tomamos conhecimento das informações ao nosso redor. Assim, processamos e respondemos voluntária ou involuntariamente a elas.

    E você? Já parou para pensar se está usando o seu cérebro de forma que ele possa trabalhar a seu favor? Na hora de se preparar adequadamente, não vale a pressa, pois ela pode fazer com que você jogue seu tempo fora!

    A forma de estudar é determinante para o resultado

    Logicamente que quem se prepara para um concurso ou para alguma prova, precisa estudar muito, mas será que você está estudando de forma eficaz? A maneira como você realiza seus estudos pode ter uma forte influência em seu desempenho.

    Há décadas que psicólogos cognitivos vem se dedicando a analisar quais são as formas mais eficazes de estudo, aquelas que mais propiciam a futura recuperação da informação através da memória. Afinal, a preocupação com o estudo não deve abranger apenas a quantidade de matéria que você vai coletar, mas principalmente o que você deve fazer para lembrar da maior parte deste conteúdo. E esse é justamente o maior problema enfrentado pelos estudantes.

    É muito raro alguém que não alcança uma aprovação dizer que nunca viu aquele assunto antes ou que o professor jamais falou sobre aquele tema. Ou seja, o problema principal está em recordar o ponto estudado, recuperar o conteúdo na memória. E para conseguir fazer isso, você precisa optar por técnicas mais eficazes de estudo.

    Técnicas de estudo

    Embora a releitura e o resumo sejam algumas das técnicas utilizadas pela maioria dos estudantes e sejam técnicas bem simples, elas não se mostram tão eficazes assim, exceto se realmente a repetição do conteúdo se der por muitas vezes.

    Um outro problema ligado a estas técnicas está na simplicidade da compreensão do conteúdo. Na prova da OAB, por exemplo, cada vez mais os alunos de Direito vem sendo submetidos a questões interdisciplinares que exigem um elevado grau de abstração de pensamento.

    O pensamento abstrato geralmente não é desenvolvido em um estudo mecânico de repetição. Também é necessário muito cuidado com as técnicas de destacar e sublinhar textos, pois elas podem provocar um registro fragmentado do conteúdo, dificultando ainda mais o conteúdo estudado.

    Logicamente que para que os temas estudados sejam sedimentados e introjetados, a repetição é necessária, mas ela deve vir acompanhada de outras técnicas, tais como a do questionamento elaborativo e da auto explicação.

    Questionamento elaborativo e auto explicação

    O questionamento elaborativo pode ser utilizado desde a primeira revisão de um conteúdo. O estudante procura formular perguntas acerca do conteúdo analisado. Já a técnica da auto explicação
    desenvolve amplamente o pensamento abstrato. Por meio dela, o estudante procura refletir sobre o assunto. Ele explica para si mesmo qual é a sua compreensão sobre ele. Vejamos um exemplo de cada um deles:

    Utilizando a técnica do questionamento elaborativo na revisão de um conteúdo inerente à imputabilidade, você poderia tentar responder à seguinte pergunta: O que pode gerar uma inimputabilidade?

    Utilizando a técnica da auto explicação, você pode tentar explicar em voz alta. Faça isso em uma espécie de aula simulada. Significa a inimputabilidade e qual é a consequência dela dentro do crime.

    Note que as duas técnicas propiciam o desenvolvimento de um pensamento mais abstrato, sem a repetição mecânica e com a possibilidade de um enfrentamento de um determinado tema de forma interligada a outros. No entanto, uma das técnicas que tem demonstrado uma maior eficácia nas pesquisas neurocientíficas e cognitivas vem sendo a de realização de testes e simulados.

    Os efeitos vem sendo percebidos inclusive a longo prazo. Isso propicia não somente uma melhor compreensão do tema estudado. Mas também um menor percentual de esquecimento do conteúdo estudado.

    Prática distribuída

    Outra técnica bastante eficaz é a da prática distribuída. Por meio dela, o estudo dos temas deve ser dividido em períodos mais espaçados. Assim, evitado-se o estudo massivo de um mesmo conteúdo por muito tempo.

    Por meio desta técnica, vale fazer um cronograma de estudos, distribuindo bem as disciplinas a serem estudadas ao longo dos dias, evitando estudar apenas uma por dia e procurando intervalar períodos de estudo de 40 a 60 minutos com períodos de 15 minutos de descanso.

    Agora você já sabe algumas informações acerca do que deve fazer e daquilo que deve evitar. Que tal colocar em prática?

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